Chevrolet Opala

Guia Técnico Completo do Chevrolet Opala Brasileiro (1968-1992)

O Chevrolet Opala representa um marco na história automotiva brasileira como o primeiro automóvel de passeio desenvolvido e fabricado pela General Motors do Brasil. Este relatório técnico abrange os aspectos fundamentais da mecânica, funilaria, sistema elétrico e outras especificações relevantes para entusiastas, restauradores e potenciais compradores deste clássico nacional.

Origem e Desenvolvimento do Projeto 676

O Opala nasceu como uma resposta da GM ao lançamento do Ford Galaxie brasileiro no V Salão do Automóvel de São Paulo em 1966. Para acelerar seu desenvolvimento, o projeto (denominado 676) baseou-se no Opel Rekord Série C lançado na Alemanha em 1967. Um aspecto singular do desenvolvimento foi a utilização de dois sistemas de medida diferentes: a metade traseira do veículo foi construída com base no Rekord alemão, utilizando o sistema métrico, enquanto a metade dianteira aproveitou projetos do Chevrolet Impala americano, feito no sistema imperial. Esta configuração incomum obrigou a GM a manter duas linhas de montagem distintas para o Opala, problema que só foi sanado em 1979 com a unificação para o sistema métrico^1.

Plataforma e Estrutura

A estrutura do Opala resultou desta combinação única de elementos europeus e americanos, criando um veículo robusto e com personalidade própria. O chassi monobloco incorporava elementos do Rekord, mas com adaptações para acomodar os conjuntos mecânicos derivados do Impala. Esta característica técnica é fundamental para restauradores, pois peças de reposição podem vir tanto de origens europeias quanto americanas, dependendo da seção do veículo.

Sistemas de Motorização

O Opala foi oferecido com duas configurações básicas de motorização durante seu ciclo de vida: quatro e seis cilindros, com diversas variações em termos de potência e configuração ao longo dos anos. Ambas as opções derivaram dos motores Chevrolet Stovebolt americanos, que mesmo sendo considerados tecnicamente obsoletos à época, ofereciam robustez e facilidade de manutenção.

Motores de Quatro Cilindros

Nos primeiros anos do Opala, o motor de quatro cilindros de 2509 cm³ (153 pol³) era basicamente uma versão reduzida do Stovebolt americano, originalmente desenvolvido para o Chevrolet Nova de 1961. Em 1974, com o objetivo de conferir maior suavidade, este motor recebeu aperfeiçoamentos: aumento do diâmetro dos cilindros, pistões mais leves, bielas mais longas, virabrequim com menor curso e volante com maior massa. Com essas modificações, a cilindrada foi ligeiramente reduzida para 2474 cm³ (151 pol³), permitindo maior rotação^1.

As principais versões do motor quatro cilindros incluem:

MotorDescriçãoPotência líquidaTorqueFabricaçãoCombustívelCarburador
1532.5L80 cv a 3800 RPM18 kgfm a 2600 RPM1968-73Gasolina228
1512.5L82 cv1974–77GasolinaSolex H40
151-S2.5L98 cv a 4800 RPM19,8 kgfm a 2800 RPM1971–80GasolinaWeber 446
1512.5L88 cv1985–88GasolinaSolex H34
1512.5L90 cv1988–90Gasolina3E
1512.5L92 cv1991–90Gasolina3E
1512.5L103 cv1980–84EtanolSolex H34
1512.5L112 cv1985–90EtanolSolex H34

Motores de Seis Cilindros

O motor de seis cilindros de 3.8L (230 pol³) utilizado no Opala deriva da 3ª geração do veterano Stovebolt. Caracterizava-se por um bloco leve e sete mancais no eixo virabrequim. Em 1970, adotou virabrequim de maior curso, elevando seu deslocamento para 4.1L (250 pol³). Posteriormente, recebeu pistões mais leves e bielas mais longas^1.

Em 1974, a Chevrolet desenvolveu o motor 250-S, uma versão com melhor preparação do motor 4100, incluindo tuchos mecânicos, carburador duplo, comando de válvulas com maior duração de abertura e taxa de compressão mais elevada. Este motor foi homologado para a antiga Divisão 1 da CBA, com taxa de compressão 9,2:1^1.

As principais versões do motor seis cilindros incluem:

MotorDescriçãoMétodo de mediçãoPotênciaTorqueFabricaçãoCombustívelCarburador
230 – 3.8seis cilindros 3.8LSAE (bruta)125 cv a 4000 RPM26,2 a 2400 RPM1968–71Gasolina
250 – 4.1seis cilindros 4.1LSAE (bruta)130 cv a 4000 RPM29 kgfm a 2400 RPM1971–75Gasolina
250-S – 4.1seis cilindros 4.1LSAE (bruta)171 cv a 4800 RPM32.5 kgfm a 2600 RPM1976–80Gasolina
250 – 4.1seis cilindros 4.1LSAE (bruta)132 cv1980–84Gasolina
250 – 4.1seis cilindros 4.1LDIN (líquida)121 cv a 3800 RPM29,0 kgfm a 2000 RPM1991–92GasolinaSolex 3E
250 – 4.1seis cilindros 4.1LDIN (líquida)141 cv32,8 kgfm a 2500 RPM1991–92EtanolSolex 3E

Uma curiosidade técnica importante sobre estes motores é a diferenciação por cores implementada pela General Motors: verde para o 151-S com carburação Weber 446, azul para o 151 com carburador Solex H40, azul para o 250, vermelho para o 250-S, amarelo para os motores a álcool. A partir de 1988, todos os motores foram padronizados na cor cinza^1.

Peculiaridades Mecânicas dos Motores

Durante toda sua vida útil, o motor do Opala sofreu com um problema crônico de vazamento de óleo. Como o custo de resolução era próximo ao do desenvolvimento de um novo propulsor, a General Motors preferiu ignorá-lo até o final da produção. Outros problemas estavam relacionados ao consumo excessivo, vibrações do motor de quatro cilindros e problemas de equalização do conjunto de cilindros^1.

Sistema de Transmissão e Trem de Força

Transmissões Originais

O Opala foi equipado com diversas opções de transmissão ao longo de sua história:

  1. Câmbio manual de três velocidades com alavanca na coluna de direção (modelos básicos)
  2. Câmbio manual de quatro velocidades com alavanca no assoalho (modelos esportivos como o 250-S)
  3. Câmbio manual de cinco velocidades no assoalho (introduzido em 1992)
  4. Transmissão automática de três marchas (primeiras versões)
  5. Transmissão automática de quatro marchas (versões posteriores, similar à utilizada nos BMW contemporâneos)^1

Adaptações de Transmissão

Um problema enfrentado por proprietários de Opala atualmente é a escassez do câmbio de cinco marchas CL2205-B (Clark) originalmente utilizado nos modelos de seis cilindros 1991/1992. Devido à alta demanda e pouca oferta, os preços desses câmbios chegam a 1/3 do valor do próprio veículo^11.

Uma alternativa popular é a adaptação do câmbio NV3500 utilizado na S10 e Blazer 4.3 V6. Este câmbio, fabricado pela New Venture Gear, é mais resistente que o original do Opala, sendo especificado para um torque de 41,5 Kgf.m (enquanto o torque do Opala 6 cilindros original é cerca de 30 Kgf.m). A adaptação requer modificações significativas, incluindo:

  1. Corte e modificação do túnel de transmissão
  2. Fabricação de novos suportes (o suporte da C10 pode ser adaptado)
  3. Encurtamento do cardã dianteiro em aproximadamente 7 cm
  4. Modificação do disco de embreagem para compatibilização com o eixo piloto do NV3500
  5. Adaptação do sistema de acionamento da embreagem (já que o NV3500 utiliza sistema hidráulico e o Opala usa cabo)
  6. Solução para o velocímetro (o NV3500 utiliza sensor eletrônico enquanto o Opala tem sistema mecânico por cabo)^11

Essas adaptações, embora trabalhosas, oferecem maior robustez e maior número de marchas, melhorando o desempenho e reduzindo o consumo de combustível do veículo.

Sistema Elétrico

O sistema elétrico do Opala, sendo um projeto das décadas de 1960-1990, é relativamente simples quando comparado aos veículos modernos, porém apresenta particularidades importantes para restauração e manutenção.

Ignição e Distribuidor

A regulagem dos platinados requer atenção especial em cada versão:

  • Motor de 4 cilindros: folga de 0,61 mm (0,024″)
  • Motor de 6 cilindros: folga de 0,41 mm (0,016″)
  • Ângulo de permanência (ambos): máximo 340, mínimo 310, ideal 320 30′^9

O procedimento para regulagem consiste em girar o motor pelo ventilador até que os platinados fiquem separados ao máximo, verificar a folga com a lâmina apropriada e ajustar, se necessário, soltando o parafuso de trava e deslocando o prato fixo com uma chave de fenda atuando sobre a fenda de ajustagem^9.

A tensão da mola do platinado móvel (martelo) deve se manter entre 530 e 650 gramas, verificável com uma balança especial. Para ajustar a tensão, deve-se dobrar a mola para dentro, se a tensão for excessiva, e para fora, se for menor que a prescrita^9.

Componentes e Adaptações Elétricas

Uma adaptação moderna que tem se tornado popular entre entusiastas é a instalação de réguas de bobinas modernas, como as do Onix, em Opalas com motor 4 cilindros, permitindo a modernização do sistema de ignição^16.

Funilaria e Carroceria

Pontos Críticos para Restauração

Os principais desafios na restauração da carroceria do Opala incluem:

  1. Tratamento de ferrugem e corrosão: Áreas particularmente suscetíveis incluem assoalho, caixas de roda e parte inferior das portas
  2. Reparos de amassados e desalinhamentos: Saia dianteira e para-choques costumam apresentar problemas
  3. Infiltrações: Particularmente no porta-malas e nas colunas
  4. Problemas de acabamento: Frisos, emblemas e peças cromadas são difíceis de encontrar em bom estado^2

Processo de Restauração

Um processo típico de restauração de funilaria do Opala envolve:

  1. Desmontagem completa das peças externas
  2. Tratamento das áreas com corrosão
  3. Alinhamento da estrutura e componentes
  4. Reparo ou substituição de painéis danificados
  5. Preparação da superfície para pintura
  6. Aplicação de primer, tinta e verniz
  7. Remontagem dos componentes com substituição de borrachas e vedações^2

Os profissionais que trabalham com restauração de Opalas recomendam a verificação de alinhamento de portas, capô e tampa do porta-malas, além da inspeção cuidadosa das colunas e longarinas para identificar possíveis reparos anteriores inadequados ou danos estruturais.

Compartilhamento de Peças com Outros Modelos

Um aspecto interessante para restauradores é a compatibilidade de algumas peças de acabamento com outros modelos da época:

  1. Frisos: Os frisos dos Diplomata 82/84 são iguais aos do Chevette SL 83, exigindo apenas adaptação de tamanho^6
  2. Capinhas dos cintos de segurança: As da Chevrolet Traffic servem perfeitamente para o Opala^6
  3. Faróis: Há discussões sobre a compatibilidade dos faróis da D20, com relatos contraditórios. Alguns afirmam que encaixam perfeitamente, enquanto outros indicam diferenças no sistema de fixação^6

Adaptações e Melhorias Técnicas

Suspensão e Direção

Entusiastas têm desenvolvido melhorias para a suspensão do Opala, como:

  1. Varões da suspensão dianteira em inox com possibilidade de troca apenas dos terminais, compostos por três peças (um em cada roda para alinhar e o do meio com rosca para troca dos terminais)^12
  2. Sistemas de pedaleira alternativos, principalmente para modificação do pedal do acelerador, que é frequentemente citado como desconfortável no projeto original^12

Sistema de Freios

A compatibilidade de componentes de freio com outros veículos é outro tema relevante:

  • Há discussões sobre quais pistões de pinça de freio dianteiro de outros carros podem ser adaptados para o Opala, embora não haja consenso definido nas fontes consultadas^6

Sistema de Arrefecimento

O motor do Opala emprega um sistema convencional de refrigeração a água, constituído por radiador, bomba d’água e termostato. Para manutenção adequada, recomenda-se:

  1. Verificação regular da válvula termostática
  2. Limpeza periódica do radiador e sistema de arrefecimento
  3. Uso de aditivo e água desmineralizada
  4. Verificação da bomba d’água e mangueiras^2

Catálogos e Part Numbers

Para restauradores e proprietários, é fundamental ter acesso a informações detalhadas sobre peças e seus códigos. Existem diversos catálogos disponíveis, tanto impressos quanto digitais.

Estrutura Típica de Catálogos do Opala

Os catálogos de peças do Chevrolet Opala geralmente são organizados nas seguintes seções:

  1. Motor e Embreagem
  2. Arrefecimento e Lubrificação
  3. Sistema Elétrico
  4. Alimentação e Escapamento
  5. Caixa de Mudanças
  6. Freio
  7. Eixo Traseiro, Árvore de Transmissão, Rodas
  8. Eixo Dianteiro e Direção
  9. Armação do Assoalho e Suspensão Traseira
  10. Chapas Metálicas
  11. Painel de Instrumentos
  12. Para-brisa, Portas e Controles
  13. Vidro Traseiro e Lanterna do Teto
  14. Carroçaria
  15. Revestimento do Teto
  16. Acabamento Interior
  17. Tapetes
  18. Acessórios
  19. Tinta
  20. Código de Peças
  21. Circular de Alterações^7

Fontes de Peças e Componentes

Atualmente, os proprietários de Opala podem encontrar peças e componentes em:

  1. Lojas especializadas em carros antigos
  2. Plataformas de e-commerce dedicadas a peças automotivas
  3. Desmanches e ferros-velhos especializados
  4. Encontros e feiras de carros antigos
  5. Grupos de entusiastas nas redes sociais^4^15

Peças comuns disponíveis no mercado incluem acionadores de buzina, adesivos para tampa de válvulas, alavancas de chave seta, manoplas de câmbio, bombas de combustível e diversos componentes elétricos e mecânicos^4.

Avaliação para Compra e Restauração

Pontos Críticos a Verificar Antes da Compra

Para quem está avaliando a compra de um Opala para restauração ou uso, é essencial verificar:

  1. Estado da estrutura: Verificar corrosão em pontos críticos como assoalho, caixa de roda, colunas e longarinas
  2. Originalidade do veículo: Checar se a numeração do chassi e motor correspondem aos documentos
  3. Mecânica: Verificar compressão do motor, vazamentos de óleo (crônicos neste modelo), funcionamento da transmissão
  4. Elétrica: Testar todos os componentes elétricos, incluindo sistema de ignição
  5. Sistema de arrefecimento: Checar bomba d’água, radiador e vazamentos
  6. Acabamentos: Verificar disponibilidade de peças para itens faltantes ou danificados

Custos de Restauração

A restauração de um Opala pode envolver diferentes níveis de investimento, dependendo do estado do veículo e do padrão desejado:

  1. Pintura e Carroceria: Tratamento de ferrugem, reparos de amassados e nova pintura
  2. Motor e Mecânica: Revisão ou reconstrução do motor, transmissão e sistema de freios
  3. Interior: Restauração ou substituição de estofamentos, painel e acessórios
  4. Elétrica: Revisão ou substituição do sistema elétrico, incluindo fiação e componentes
  5. Suspensão: Revisão ou substituição de componentes para garantir condução segura^5

Conclusão

O Chevrolet Opala representa uma importante página na história automobilística brasileira, combinando elementos de design europeu com robustez mecânica americana. Seu projeto único, utilizando dois sistemas de medida diferentes, conferiu-lhe características próprias que o distinguem tanto dos modelos europeus quanto dos americanos.

Para restauradores e entusiastas, o Opala oferece um excelente ponto de entrada no universo dos carros clássicos, com uma comunidade ativa de proprietários e boa disponibilidade de peças e informações técnicas. As possibilidades de adaptação e modernização, especialmente em sistemas como transmissão, suspensão e ignição, permitem que o veículo seja adequado tanto para uso cotidiano quanto para colecionadores.

A valorização crescente dos exemplares bem preservados ou restaurados demonstra o reconhecimento do modelo como um ícone automotivo brasileiro, tornando o investimento em sua aquisição e restauração não apenas uma questão de paixão, mas também uma possibilidade de preservação do patrimônio automotivo nacional com potencial retorno financeiro.